Candidata a ministra da Agricultura, Kátia Abreu é uma das pessoas mais próximas a Dilma
Os contrários à indicação precisarão de mais que vaias para fazer a presidente mudar de ideia
Paulo de Tarso Lyra
Brasília – “Presidente, estou aqui descumprindo uma ordem médica, mas precisava vir para apresentar as demandas do setor.” Foram estas as palavras ditas pela senadora Kátia Abreu (TO), recém-operada e, à época, ainda filiada ao PSD, na primeira audiência das duas no Palácio do Planalto. Para Dilma, que descobriu, em plena corrida eleitoral, um câncer no sistema linfático, deparar-se com uma mulher que, como ela, não deixa de trabalhar, apesar dos problemas de saúde, era a senha que faltava para transformar a futura ministra da Agricultura em uma das pessoas mais próximas a ela no restrito círculo do poder de Brasília.
Por coincidência, foi justamente durante a corrida eleitoral de 2010, quando Dilma retirou um tumor de 2,5 cm da axila direita e passou quatro meses fazendo quimioterapia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que ocorreu o primeiro contato entre ambas. Kátia, filiada ao DEM, relatora do projeto que derrubou a CPMF no Senado e que, até hoje, é apontado como a maior derrota do governo Lula, escreveu uma longa carta desejando “força” para Dilma. “Ela disse para a presidente ter coragem e fé para enfrentar a doença. E acrescentou que a saúde dela era muito importante para assegurar a presença feminina na política”, lembra uma amiga pessoal da senadora de Tocantins.
Até então, o contato entre ambas era zero. Aliados até afirmam que a carta não tinha interesses políticos, apenas uma demonstração de solidariedade humana. Kátia fez campanha para José Serra em 2010 e não poderia, abertamente, apoiar a candidata do PT. Mas, ao término do segundo turno das eleições presidenciais de quatro anos atrás, ela debruçou-se sobre o mapa eleitoral feito pelos analistas políticos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e afirmou: “A presidente terá de nos procurar para buscar o apoio nos locais onde ela não tem”.
Na verdade, Kátia, de longe, observava os passos da presidente desde a metade do primeiro mandato de Lula. Ainda que de forma oblíqua. A ruralista percebia os embates da chefe da Casa Civil com a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva – essa sim, considerada adversária ferrenha. “Kátia sabia que precisava de uma aliada forte. Marina, além de empedernida, era protegida de Antonio Palocci”, recorda uma aliada da presidente da CNA.
Apesar de o apoio do agronegócio ser tradicionalmente ao PSDB, Kátia desabafou a pessoas próximas que, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o setor jamais foi recebido em audiência no Palácio do Planalto. Lula sinalizou um distensionamento com os produtores rurais e o diálogo ficou melhor com os ministros Roberto Rodrigues e Reinhold Stephanes. Mas ainda era pouco. A vitória de Dilma de 2010, por exemplo, poderia ser uma porta aberta para os ruralistas no governo.
A presidente, contudo, escolheu Antonio Palocci para a Casa Civil. O caminho estava bloqueado novamente. Kátia, então, buscou estradas alternativas para chegar à presidente. E optou pelo vice-presidente Michel Temer, com quem tem relação estreita – ele é o responsável pela filiação dela ao PMDB. Temer foi também o responsável por aproximar as duas que, nas palavras de um amigo do PSD, descobririam pouco depois que se completavam no estilo de trabalhar e pensar o país.
Do trabalho de aproximação até a primeira audiência, em 2012, o caminho foi natural. Hoje, Kátia é uma das poucas pessoas com canal direto com a presidente. Se há ministros – a maior parte deles, na verdade – que reclamam não ter qualquer intimidade com a principal mandatária do país, Kátia pode orgulhar-se de conversar com a presidente por SMS. E não apenas de política , mas dicas de beleza, roupas, brincos, conversas femininas. Para desespero dos movimentos sociais e da esquerda petista, será preciso bem mais do que vaias e gritos de protestos para fazer a presidente ficar em dúvida sobre a indicação.
Beleza Segundo interlocutores em comum, Kátia adora dar dicas de beleza à presidente. Vaidosa, ela “se monta”, nas palavras de uma aliada, não para aparecer em fotos nos jornais ou para audiências políticas. Ela se produz toda porque é uma figura pop entre seu eleitorado. Durante a campanha, ela desembarcou em Tocantins para um evento e foi cercada por produtores rurais. “A senhora sabe qual o nome da última vaca que vai para o matadouro? Esperança. Senadora, a senhora é nossa esperança em Brasília”, afirmou o fazendeiro.
Ela olhou bem nos olhos do interlocutor, deu um tapa nas costas dele, e disse: “Não sei se agradeço, se xingo você ou se dou um mugido”, gargalhou. De outra feita, um produtor rural, querendo ser simpático, disse que tinha se encharcado de perfume e colocado a melhor camisa só para vê-la. Kátia não pensou duas vezes: puxou pelo braço a esposa do fazendeiro. “Vem cá, que vou falar com você e não com ele. E fala para seu marido que é para você que ele precisa passar perfume e vestir a melhor camisa, não para mim”, aconselhou.
Se Kátia é pop, algo que Dilma jamais será, as duas combinam na obsessão pelo trabalho. “Ela é um trator e a maioria das pessoas diverge completamente do que ela pensa e fala. Mas, a exemplo da presidente, Kátia não tem medo de comprar brigas ou ser antipática ao defender seus pontos de vista”, afirmou uma pessoa que já viveu o desespero de ter que contrapor-se às argumentações da senadora peemedebista.
Ela também é, assim como a presidente, estudiosa. Nos encontros com Dilma, leva mapas e dados para mostrar os problemas do setor e apresentar alternativas e soluções. “Kátia sabe e gosta de fazer política, mas foge ao perfil tradicional da política. Ela não conversa com a presidente sobre cargos, mas sobre o Brasil real que precisa de infraestrutura”, disse uma pessoa próxima. Por isso, já houve conversas entre ambas, a sós, fora da agenda, por mais de uma hora. Uma coisa rara na escassa paciência de Dilma em trocar ideias com algum interlocutor.
Brasília – “Presidente, estou aqui descumprindo uma ordem médica, mas precisava vir para apresentar as demandas do setor.” Foram estas as palavras ditas pela senadora Kátia Abreu (TO), recém-operada e, à época, ainda filiada ao PSD, na primeira audiência das duas no Palácio do Planalto. Para Dilma, que descobriu, em plena corrida eleitoral, um câncer no sistema linfático, deparar-se com uma mulher que, como ela, não deixa de trabalhar, apesar dos problemas de saúde, era a senha que faltava para transformar a futura ministra da Agricultura em uma das pessoas mais próximas a ela no restrito círculo do poder de Brasília.
Por coincidência, foi justamente durante a corrida eleitoral de 2010, quando Dilma retirou um tumor de 2,5 cm da axila direita e passou quatro meses fazendo quimioterapia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que ocorreu o primeiro contato entre ambas. Kátia, filiada ao DEM, relatora do projeto que derrubou a CPMF no Senado e que, até hoje, é apontado como a maior derrota do governo Lula, escreveu uma longa carta desejando “força” para Dilma. “Ela disse para a presidente ter coragem e fé para enfrentar a doença. E acrescentou que a saúde dela era muito importante para assegurar a presença feminina na política”, lembra uma amiga pessoal da senadora de Tocantins.
Até então, o contato entre ambas era zero. Aliados até afirmam que a carta não tinha interesses políticos, apenas uma demonstração de solidariedade humana. Kátia fez campanha para José Serra em 2010 e não poderia, abertamente, apoiar a candidata do PT. Mas, ao término do segundo turno das eleições presidenciais de quatro anos atrás, ela debruçou-se sobre o mapa eleitoral feito pelos analistas políticos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e afirmou: “A presidente terá de nos procurar para buscar o apoio nos locais onde ela não tem”.
Na verdade, Kátia, de longe, observava os passos da presidente desde a metade do primeiro mandato de Lula. Ainda que de forma oblíqua. A ruralista percebia os embates da chefe da Casa Civil com a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva – essa sim, considerada adversária ferrenha. “Kátia sabia que precisava de uma aliada forte. Marina, além de empedernida, era protegida de Antonio Palocci”, recorda uma aliada da presidente da CNA.
Apesar de o apoio do agronegócio ser tradicionalmente ao PSDB, Kátia desabafou a pessoas próximas que, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o setor jamais foi recebido em audiência no Palácio do Planalto. Lula sinalizou um distensionamento com os produtores rurais e o diálogo ficou melhor com os ministros Roberto Rodrigues e Reinhold Stephanes. Mas ainda era pouco. A vitória de Dilma de 2010, por exemplo, poderia ser uma porta aberta para os ruralistas no governo.
A presidente, contudo, escolheu Antonio Palocci para a Casa Civil. O caminho estava bloqueado novamente. Kátia, então, buscou estradas alternativas para chegar à presidente. E optou pelo vice-presidente Michel Temer, com quem tem relação estreita – ele é o responsável pela filiação dela ao PMDB. Temer foi também o responsável por aproximar as duas que, nas palavras de um amigo do PSD, descobririam pouco depois que se completavam no estilo de trabalhar e pensar o país.
Do trabalho de aproximação até a primeira audiência, em 2012, o caminho foi natural. Hoje, Kátia é uma das poucas pessoas com canal direto com a presidente. Se há ministros – a maior parte deles, na verdade – que reclamam não ter qualquer intimidade com a principal mandatária do país, Kátia pode orgulhar-se de conversar com a presidente por SMS. E não apenas de política , mas dicas de beleza, roupas, brincos, conversas femininas. Para desespero dos movimentos sociais e da esquerda petista, será preciso bem mais do que vaias e gritos de protestos para fazer a presidente ficar em dúvida sobre a indicação.
Beleza Segundo interlocutores em comum, Kátia adora dar dicas de beleza à presidente. Vaidosa, ela “se monta”, nas palavras de uma aliada, não para aparecer em fotos nos jornais ou para audiências políticas. Ela se produz toda porque é uma figura pop entre seu eleitorado. Durante a campanha, ela desembarcou em Tocantins para um evento e foi cercada por produtores rurais. “A senhora sabe qual o nome da última vaca que vai para o matadouro? Esperança. Senadora, a senhora é nossa esperança em Brasília”, afirmou o fazendeiro.
Ela olhou bem nos olhos do interlocutor, deu um tapa nas costas dele, e disse: “Não sei se agradeço, se xingo você ou se dou um mugido”, gargalhou. De outra feita, um produtor rural, querendo ser simpático, disse que tinha se encharcado de perfume e colocado a melhor camisa só para vê-la. Kátia não pensou duas vezes: puxou pelo braço a esposa do fazendeiro. “Vem cá, que vou falar com você e não com ele. E fala para seu marido que é para você que ele precisa passar perfume e vestir a melhor camisa, não para mim”, aconselhou.
Se Kátia é pop, algo que Dilma jamais será, as duas combinam na obsessão pelo trabalho. “Ela é um trator e a maioria das pessoas diverge completamente do que ela pensa e fala. Mas, a exemplo da presidente, Kátia não tem medo de comprar brigas ou ser antipática ao defender seus pontos de vista”, afirmou uma pessoa que já viveu o desespero de ter que contrapor-se às argumentações da senadora peemedebista.
Ela também é, assim como a presidente, estudiosa. Nos encontros com Dilma, leva mapas e dados para mostrar os problemas do setor e apresentar alternativas e soluções. “Kátia sabe e gosta de fazer política, mas foge ao perfil tradicional da política. Ela não conversa com a presidente sobre cargos, mas sobre o Brasil real que precisa de infraestrutura”, disse uma pessoa próxima. Por isso, já houve conversas entre ambas, a sós, fora da agenda, por mais de uma hora. Uma coisa rara na escassa paciência de Dilma em trocar ideias com algum interlocutor.