domingo, 27 de julho de 2008

Petróleo impulsiona reação da indústria naval no país

01/12/2007

FERNANDO CANZIAN
da Folha de S.Paulo

A indústria naval brasileira apresenta recuperação meteórica nos últimos três anos. Entre o ano passado e 2007, o emprego dobrou para 40 mil funcionários diretos e os novos empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deram um salto 520%, para R$ 3,6 bilhões até outubro.

A virada no setor deu-se a partir do setor de petróleo, com as encomendas, em 2006, de 26 novos petroleiros pela Transpetro, empresa de logística e transporte da Petrobras.

Agora, o setor ingressa na fase de consolidação, com novos investimentos e encomendas crescentes das áreas de petróleo e transporte de carga.

A partir de 2009, deve entrar em operação no Brasil o maior estaleiro do hemisfério Sul, o Atlântico Sul. Em fase de construção no litoral sul de Pernambuco, ele competirá com vários outros tradicionais, como Mauá e Brasfels, recuperados pelos negócios crescentes dos últimos anos.

A indústria naval brasileira tem faturamento previsto para este ano de R$ 4,5 bilhões e encomendas totais em carteira equivalentes a R$ 14,4 bilhões (R$ 9 bilhões em navios e R$ 5,4 bilhões em plataformas de petróleo). No total, estão em fase de construção, planejamento ou análise mais de 70 unidades em vários pontos do país.

Segundo Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval, sindicato que reúne o setor, a atual fase de "consolidação" ainda está calcada no setor de petróleo, com várias encomendas de navios tanques, e marcada pela entrega das plataformas P-52 (Brasfels) e P-54 (Mauá), já em operação na Bacia de Campos.

"A terceira fase (do setor) será a expansão da indústria com a construção de navios porta-containeres de longo curso", afirma Rocha.

A frota de navios que navegam com bandeira brasileira não transporta mais mercadorias na chamada navegação de longo curso, onde se concentra a maior parte do comércio exterior do país. Até o final da década de 70, a frota do país transportava 22% da carga -que era substancialmente menor que a atual.

Na cabotagem (transporte de mercadorias ao longo da costa brasileira), a participação da bandeira brasileira é inferior a 14% do total transportados, segundo o Sinaval.

"O mercado mundial de exportações e importações movimentou US$ 20 trilhões em 2006, 85% por via marítima. O Brasil é o maior exportador de grãos, e hoje consome milhões com afretamento de embarcações", afirma Carlos Camerato, presidente do conselho de administração do estaleiro Atlântico Sul, em construção em Pernambuco.

"Com o tempo, a matriz de transporte no Brasil vai mudar, pois não tem sentido mercadorias de Manaus, por exemplo, serem "puxadas" de caminhão até o Sul do país. O potencial fluvial e de cabotagem do Brasil é enorme", diz Camerato.

O Atlântico Sul deve entrar em operação em 2009, após investimentos de R$ 780 milhões que devem gerar 5.000 empregos diretos.

Até 2012, porém, 80% da produção do Atlântico Sul será destinada à área de petróleo e apenas 20% para embarcações para comércio internacional.

Construção naval tem aliados de peso para consolidar sua revitalização

A consolidação da revitalização da Construção naval é iniciada com a encomenda de 26 petroleiros para a Transpetro: R$ 4,7 bilhões

Um dos aliados é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que pela primeira vez financiará o setor com recursos próprios.

A instituição, que financia estaleiros e armadores por meio de repasses do Fundo da Marinha Mercante (FMM), assinou com o Ministério dos Transportes convênio pelo qual se compromete a abrir os cofres para completar a verba do FMM.

Outro aliado da indústria naval, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse que vai propor que a instituição crie uma linha de crédito para o setor.

A proposta será feita em outubro. Lupi destaca que 40% Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) vai para os cofres do BNDES.

(Gazeta Mercantil - Sinopse Radiobrás- 26/09/2007)